Carlo Ginzburg
Carlo Ginzburg reuniu nove ensaios reflexivos e nomeou-os em um livro com o título “Olhos de Madeira”. Esses olhos de madeira são os de Pinóquio no famoso conto de Carlo Collodi. Podem ser olhos de madeira que nos olham estranhamente ou podem ser os nossos olhos que deveriam ser estranhos olhos de madeira; penso que devam ser os dois.
O autor nos leva por um mundo de personagens literários bastantes conhecidos no mundo cultural das letras começando com Marco Aurélio e chegando até os nossos dias. Nos convida a olhar e ser olhado; nos convida a usar a pupila dos olhos para sermos pupilos dos olhos dos mestres; nos excita a sermos ingênuos e despretensiosos e com isso treinar e exercer o estranhamento.
Quando olhamos para um outro ser humano podemos ver um véu (de Mâyâ) embaçando o relacionamento; mas este véu está sobre o outro ou está sobre nós? Provavelmente encontraremos dois véus, mas à distância que leva ao estranhamento nos fará tirar o nosso véu para tentar nos descobrir no outro e possivelmente o outro tirará o seu véu.
A proposição de Ginzburg é difícil e ao mesmo tempo instigante. Resta-nos a coragem de nos sentir bonecos de pau, para então começar a transformação em seres de carne, osso e sangue.
Paulo Costa de Souza
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