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‘Não dá para pensar em Marketing Digital sem pensar nos fundamentos do Marketing’, diz Ricardo Poli, professor e consultor
4 de julho de 2022

O mundo está em constante mudança e exige que marcas se adaptem a diferentes realidades e demandas são clichês que você já conhece e ouviu dezenas de vezes (mas que não deixam de ser verdade mesmo assim). No entanto, abraçar o dinamismo da vida significa se entregar ao novo e deixar para trás tudo que nos trouxe até aqui?

Essa é a provocação de Ricardo Poli, palestrante, professor e consultor há cerca de 30 anos, além de defensor do bom e velho Marketing. Convidado para participar da última Jam Session da Rock Content, uma série de entrevistas e webinars gratuitos com os melhores profissionais do mercado, Poli mostrou como muitos fundamentos de Marketing utilizados por profissionais anos atrás, muito antes do digital, estão longe de estarem obsoletos.

Longe de ser saudosista, Poli convida gestores e marcas a olhar atentamente para o mundo e ter um olhar 360° para desenvolver suas estratégias, independentemente do canal. Ao advogar pelo chamado ‘Marketing raiz’, Poli deixa claro que não é necessariamente contra o Marketing Digital, mas sim como ele é visto. “Marketing não é sinônimo de Marketing Digital”, ele afirma. “O Marketing é um só, e ele tem seus fundamentos. Mas a forma como uma marca se manifesta hoje tem, indiscutivelmente, muito do digital”.

Seja raiz ou Nutella, digital ou analógico, Poli ressalta como o Marketing em seu conceito mais fundamental carrega princípios que são vitais para nortear qualquer estratégia: a capacidade de entender seu público, de olhar para o mundo, de ter um posicionamento forte e entender sua essência.

Avesso à quantidade de métricas, técnicas, manuais, fórmulas e regras que existem hoje em dia no mundo do Marketing, Poli chama atenção para elementos que sempre foram básicos e continuam sendo relevantes até hoje para marcas que desejam ser lembradas.

“Tenha bem claro quais são os fundamentos da existência da sua marca. Isso não tem nada a ver com digital. O quem é você, seu conjunto de significados, associações, tudo isso. Segunda coisa: entenda o fenômeno das redes sociais. Faça parte do movimento, não queria ser o movimento. Pense 360 graus, não deixe de estar presente e executar ações de comunicação que já existiam. Não foque todo seu esforço nas redes sociais. Mas se você quer estar lá, tem que estar de um jeito. E olhe para o mundo para ver o que o mundo quer”, completa.

Além de falar sobre os pilares do bom e velho Marketing, Poli compartilhou muito mais insights sobre as armadilhas e riscos que marcas enfrentam ao adotar novidades sem estratégia, a urgência de humanizar o posicionamento de marca, o papel do conteúdo para ajudar marcas a se aproximar dos clientes e muito mais.

Assista à entrevista no vídeo abaixo ou leia a transcrição.

Transcrição

[Fábio Miranda – Rock] Estamos ao vivo! Boa tarde galera, estão nos ouvindo bem? Sejam muito bem vindos a mais uma Jam Session da Rock. Para quem não conhece, as Jam Sessions são webinários que fazemos mensalmente com especialistas e grandes nomes do mercado para trocar uma ideia e falar um pouco sobre Marketing, vendas e tudo que engloba o universo do Marketing. Nosso objetivo é trazer insights que possam ser implementados na carreira e no negócio de vocês.

Hoje estou aqui com um convidado ilustre, o Ricardo Poli. Antes de mais nada, deixa eu me apresentar: sou o Fábio, gerente de Marketing da Rock Content, e cuido hoje do nosso time de growth e nosso time de Marketing e estou conversando hoje com Ricardo Poli, que é palestrante, professor e consultor há cerca de 30 anos. Vou deixar que ele se apresente um pouco mais. Seja muito bem-vindo!

[Ricardo Poli – Especialista] Obrigado! Meus alunos sempre esperam que eu faça um “olá”, que é como eu inicio minhas aulas. É um prazer estar com vocês, fica aqui o meu agradecimento a você, Fábio, a minha querida ex-aluna da ESPM que me indicou para estar com vocês hoje; a Cury, a Cecília e todo mundo que promoveu essa oportunidade. 

Estou falando logo no começo porque sempre esqueço de alguém no final. Se eu esqueci de alguém, se sinta agradecido. Você foi muito generoso na sua apresentação, eu estou aqui para falar do que chamamos de bom e velho Marketing, e justamente com vocês que são a linha de frente do Marketing de Conteúdo. 

Eu não gosto de ficar falando muito de mim mesmo, Fábio, mas só como curiosidade, eu sou engenheiro de alimentos pela Unicamp. Tive uma carreira meio doida, que se adentrou para o mundo do Marketing primeiro no trabalho com consultoria e depois acabei me descobrindo como professor e aí fiz especialização, MBA, e tudo acabou com um mestrado em comunicação e semiótica. 

Ou seja, eu saí lá das exatas e fui lá para humanas e quem sabe um doutorado em filosofia para fechar bem esse ciclo. Eu não gosto de ficar falando muito disso não, mas são vários anos, com esse ano em particular são 30 anos como professor – comecei como professor de matemática, e geometria – e 30 anos de consultoria também. 

[Fábio Miranda – Rock] Legal, Poli! Eu conheço alguns engenheiros também que saíram da engenharia e vieram para o Marketing, não é tão incomum assim. 

Então hoje como o Poli comentou, vamos falar sobre o bom e velho Marketing, basicamente alguns conceitos fundamentais que acabam sendo esquecidos, principalmente pela turma nova que entra no Marketing Digital. 

Mas antes da gente entrar na conversa do webinário em si, eu queria que você me falasse um pouquinho sobre quais foram os fundamentos da sua carreira. Você está no Marketing há tanto tempo,- e sem querer te chamar de velho, mas de carreira você tem mais que minha idade (risos), – então queria que você falasse um pouco dos fundamentos da sua carreira que fizeram você estar aí há tanto tempo.

[Ricardo Poli – Especialista] Eu acho que devo ter por volta do dobro da sua idade, mas o que eu aprendi – principalmente quando eu falava com a galera dos cursinhos, eu palestrei muito sobre carreira na época da ESPM – é que sua carreira nunca está pronta, ela é um caminho que você está percorrendo e perseguindo. Eu falo que muitas vezes a sua profissão não está indexada na faculdade que você fez – olha quantos casos a gente tem disso. 

Eu dei aula magna no Mackenzie esse ano e tinha no evento um artista francês, famoso, e que fez enfermagem. Pode chegar um dia na sua vida em que sua profissão não tem nada a ver com a faculdade que você fez. Isso não quer dizer que foi uma perda de tempo, não foi. Eu digo “uma vez engenheiro sempre engenheiro“, porque o engenheiro tem orgulho da faculdade que faz, a gente sofre muito por cinco anos e queremos valorizar isso para o resto da vida. 

Mas a engenharia me deu a lógica de pensar, me deu a capacidade de aprender a aprender – não tem desafio difícil. Eu sempre falo para os meus alunos de comunicação que chega o feriado e eles discutem para onde vão viajar e na engenharia chegava o feriado e a gente ficava feliz para estudar e colocar a matéria em dia. Tem elementos da formação do engenheiro que servem para muitas profissões, vejo muito isso na capacidade de aceitar desafios, de matar no peito, e achar que tudo é possível. 

Além disso, a lógica do pensamento – o engenheiro sabe estabelecer uma lógica e sabe entender lógicas, o que acho que é fundamental para qualquer profissão, principalmente no Marketing. 

E qual é a lógica do Marketing? Qual é a lógica do digital? Quando eu falo do bom e velho Marketing, do Marketing raiz é porque tem uma lógica que nunca vai mudar, mas que vai precisar se adaptar aos novos tempos. 

[Fábio Miranda – Rock] Legal. E até já pegando como gancho essa parte de que vai precisar de adaptar, vamos direto ao ponto central do webinário – e que você gosta muito de falar em suas palestras, nas suas aulas, – que é o tal de Marketing raiz. Afinal de contas, o que é esse Marketing raiz e como você acha que ele tem que se adaptar ou como ele se adapta às demandas atuais do mundo digital que a gente vive?

[Ricardo Poli – Especialista] O fato deu usar o termo Marketing raiz – ou aquilo que criamos no Novo Mercado, o bom e velho Marketing – na verdade foi uma reação, foi uma forma de criar um jargão justamente em contraposição ao Marketing Digital. A galera do Marketing Digital começou a dizer que fazia Marketing Digital nas suas mais variadas facetas – parecem um dado de RPG com tantos lados – e parece que pelo discurso da galera do digital (e eu não condeno, foi a maneira de vender a ideia), Marketing Digital virou sinônimo de tudo aquilo que o Marketing é, mas não é assim. 

Tem muita gente no digital que comete o equívoco de promover o digital condenando o Marketing raiz. Eles questionam e dizem que tudo que veio antes não vale de nada, e não é assim. Tanto que a minha grande provocação é que o Marketing Digital não existe. Se você conhece Marketing você vai entender que Marketing Digital não existe, existe comunicação digital, canais de distribuição digital. O Marketing é muito mais que o digital. 

Uma vez eu fiz um post de brincadeira falando que a carrocinha de garapa na feira tem uma rentabilidade de negócio muito alta, nenhuma aplicação da XP é igual, e o que ele tem de digital? Nada. 

Tem muitos negócios de sucesso que não são nada digitais. Fiz um vídeo também do rapaz que vende pamonha na minha rua e ele disse que está fazendo isso há 40 anos e ganha dinheiro com isso… é aquilo de falar de porta em porta, de falar diretamente com seu público, e isso ele faz na prática. 

O fato de ter criado o Marketing raiz ou o bom e velho Marketing foi uma contraposição de comunicação para falar que existe o digital e o outro lado. Mas eu não tenho nada contra o Marketing Digital, pelo contrário, eu só acho que Marketing é um só. Não dá para pensar em Marketing Digital sem pensar nos fundamentos do Marketing que vão se concretizar, se efetivar de uma forma diferente, até porque existem soluções para alguns problemas que o pessoal do digital não vai ter condições de dar. 

Eu me deparo com alguns desafios em minhas consultorias que se fossem direcionados para o pessoal do digital eu não sei como seriam resolvidos. Por exemplo, estou dando consultoria para um banco que vai surgir, e tem que fazer um projeto de branding, criar uma marca: qual a concepção dessa marca, qual seu conjunto de significados, associações, – e o pessoal do digital não cria nome – qual o mercado que ela vai atender, quais os desejos e necessidades a serem atendidos, e isso nunca vai mudar. 

Agora a forma de se manifestar ao mundo, a forma que uma marca se manifesta ao mundo hoje tem muito do digital. E existe outro contraponto que vamos falar mais para a frente. 

[Fábio Miranda – Rock] É interessante isso que você falou porque vemos a galera do digital fazendo essa confusão do que é um canal e uma estratégia de fato, e vemos que se o pessoal que trabalha com Marketing faz essa confusão, os leigos mais ainda. Quando eu vou cortar o cabelo, por exemplo, e falo que trabalho com Marketing, o pessoal me pede dicas de Instagram, acham que redes sociais são sinônimo de Marketing. E isso me traz a próxima pergunta: para você quais são os maiores riscos de uma empresa, ou marca, pensar uma estratégia sem prestar atenção no Marketing raiz? De já querer partir para a prática antes de pensar na estratégia?

[Ricardo Poli – Especialista] Tem vários riscos. Vou te dar o exemplo do universo digital dos infoprodutos. Eu vejo muitos dos gurus do infoproduto falarem assim: é preciso descobrir uma coisa que você sabe fazer bem ou algum conhecimento que você tem de maneira muito relevante e jogar para o mundo que o mundo vai comprar. Isso é um pensamento de dentro para fora. O bom e velho Marketing fala para olharmos para o mundo também. O princípio de tudo no Marketing é que eu tenho que ter noção daquilo que eu tenho capacidade de oferecer para o mundo, mas ao mesmo tempo eu preciso olhar o que o mundo necessita e deseja. 

Não adianta lançar um curso “eu adoro coalas” aqui no Brasil, por exemplo. Fica estranho. 

Outro dia eu estava num treinamento fazendo uma experiência com o pessoal do Mercado Livre, e aí a pessoa falou “eu tenho o produto, faço o anúncio certinho, mas não tenho vendas” então eu perguntei qual era o produto: almôndegas de açaí. Eu pensei comigo não precisa nem dizer porque as pessoas não procuram – tem que olhar para o mundo. 

Temos que buscar uma intersecção: existe uma intersecção entre aquilo que você quer oferecer pro mundo e entre o que o mundo necessita e deseja? Qual o tamanho dessa intersecção? É aí que você começa a pensar em inovações, diferenciações e uma oferta. E não se esqueça: você não está sozinho nesse mundo, talvez tenha nesse exato momento alguém com a mesma ideia que você, mas como você vai ser diferente dele?

É o que eu falo com o pessoal do digital, quantos gestores de tráfego estão se formando nesse exato momento no mundo, quantos gestores de mídias sociais, quantos estrategistas de mídia social estão se formando nesse exato momento? Todo mundo fazendo a academia do Sobral ou a formação de mídias sociais do Novo Mercado – e não estou negando, esses caras são fenomenais -, mas cada colega de turma é um concorrente seu ali. Como você vai ser diferente dele? 

Já que no digital tudo é muito técnico, como ser diferente? Você só vai ser diferente quando desenvolver a capacidade de entender o negócio do seu cliente. Quando você souber fazer as melhores perguntas para entender o negócio dele e entender o mercado do negócio do seu cliente – ir lá na ponta, é assim que você se diferencia. Porque assim você vai usar as ferramentas do digital de uma maneira muito mais inteligente. 

O que me incomoda no digital às vezes é esse monte de regra e fórmula: cuidado!  Um dos princípios de tudo é que cada contexto é um contexto, é diferente. Posso ter duas empresas de varejo online que vendem exatamente as mesmas categorias de produto e elas podem ser empresas totalmente diferentes, pois as empresas são formadas por pessoas e por causa disso elas têm identidades diferentes, características diferentes, propósitos diferentes. Esse é o grande desafio e o que me incomoda às vezes no digital é pegar uma mesma fórmula e aplicar para todos. 

Por exemplo, uma fórmula de lançamento, nada contra o rapaz da fórmula de lançamento, o Érico, acho ele um fenômeno mercadológico fantástico, mas assim, a mesma fórmula para todo mundo? Alguns princípios sim, mas não tudo. 

Essa capacidade de entender o negócio passa por entender o seguinte: qual é o mercado, qual é a demanda que você quer atender, esse mercado é formado por segmentos? Nem toda a demanda é atendida, então como é o consumo, etc.

Entender mercado, desejos e necessidades, demanda e entender como eu me torno uma marca. 

[Fábio Miranda – Rock] Acho que é por aí mesmo. Cada dia tem algo novo para aprender em termos de coisas técnicas, e se a gente não entende a estratégia do nosso negócio não sabemos nem a razão de estar fazendo tal coisa. Aí surge o TikTok e o profissional acha que tem que criar tudo ali; um tempo atrás foi o Snapchat, e enfim, todo dia vai surgir uma rede social nova e isso não necessariamente vai mudar a estratégia de um negócio. 

[Ricardo Poli – Especialista] É importante entender que tem negócios que são digitais, eminentemente digitais. O cara que tem um infoproduto – e eu vou lançar o meu em breve – ele é eminentemente digital, aí você está à mercê das redes. Mas tem negócios que têm braços digitais, que não são eminentemente digitais. 

Quando eu falo que o Marketing Digital é um canal é porque ele pode ser um canal de distribuição como um e-commerce ou o varejo online; e ele pode ser um canal de comunicação quando eu falo de marcas que querem se manifestar ao mundo e falar com seus públicos. É sempre um canal. Mas tem negócios que são digitais e que de altura, largura e profundidade não tem nada, é serviço puro.

Se o seu negócio é digital, você tem que estar à mercê das redes sociais e tem que saber os riscos que isso trás. 

[Fábio Miranda – Rock] Perfeito, Poli. Pegando esse gancho de redes sociais, e englobando seu comentário sobre os negócios que são digitais, e também os negócios que tem braços digitais; querendo ou não as redes sociais hoje possibilitam um alcance e uma comunicação diferenciada, além de mudar muito o comportamento do consumidor de forma geral, e o modo como as pessoas interagem com as marcas também. 

Na sua percepção, como as marcas devem se adaptar ou não a essa realidade das redes sociais e como elas podem ter um bom impacto nas redes pensando nos fundamentos do Marketing tradicional, não simplesmente criando um perfil por criar. Qual seria a estratégia?

[Ricardo Poli – Especialista] Eu acredito que as redes sociais são uma nova mídia, certo? Tudo começou com o rádio, depois veio a televisão, cinema, jornal, revista, etc. As mídias sociais são as novas mídias. O que temos que entender é que cada mídia tem sua própria dinâmica. 

Outro dia eu estava falando com um amigo que é publicitário das antigas e as agências anteriormente tinham uma pessoa de atendimento como estrategista, uma pessoa de criação como designer e uma pessoa de mídia. O que mudou mesmo é a pessoa de mídia, porque não dá mais para pensar com a lógica do jornal e do rádio. A gestão de tráfego tem outra lógica e que está mudando constantemente, diferente da mídia tradicional que nunca mudou, era uma tabela fixa de preços e inserções. 

O que eu vejo nas grandes marcas é que tem uma febre, até uma fobia de estar nas redes sociais. Sim, é importante estar nas redes sociais, mas não pode entrar de qualquer jeito. O que eu vejo nessas marcas é que elas se esqueceram dos fundamentos na hora de entrar nas mídias sociais.

É preciso entender que a mídia social é antes de tudo um fenômeno sociológico. Por que as pessoas estão presentes nas redes sociais? Por que as pessoas têm Instagram, Facebook, TikTok e LinkedIn? Elas querem se manifestar para o mundo. Toda pessoa que tem um celular na mão é uma mídia, essa é a questão. Cada pessoa no mundo é uma mídia e temos que entender que as pessoas têm a necessidade e o desejo – por isso que eu falei de um fenômeno sociológico – de se manifestar para o mundo. 

Manifestar seus gostos, seus desgostos, suas opiniões políticas, suas paixões de futebol, suas conquistas e fracassos e tudo o mais. Isso começou lá atrás com os programas tipo BBB, na verdade com um programa da MTV que eu nem sei se você já era nascido, e depois veio o BBB que era todos olhando para a vida dos outros. 

O que as mídias sociais fizeram? Trouxeram a possibilidade de você ser o BBB e ser visto por um monte de gente. O que não podemos esquecer? Que o Marketing Digital também tem seus fundamentos. Por que as pessoas estão presentes nas redes sociais? Para se informar, para se entreter e estabelecer contatos, ou networking, essas três coisas. 

O que eu sempre falo é que as grandes marcas não sacaram isso, muita gente ainda não sacou isso. Existem movimentos dentro das redes sociais e as grandes marcas às vezes caem na armadilha de querer ser o movimento, e não fazer parte de um movimento. E aí entra naqueles processos de estabelecer KPI de contagem de quantos likes teve. O que digital trouxe para o bom e velho gerente de Marketing, gerente de produto e diretor de Marketing? Métricas. Quantidade de likes, views e essa coisa toda. 

Mas isso é uma ilusão, tudo fica metrificado por esses KPIs, por esses parâmetros, mas pera aí. As marcas se colocam nas mídias sociais da mesma maneira que elas se colocavam no intervalo comercial da TV. E isso é um erro, porque as pessoas não querem ver anúncios. Quanto tempo dura um anúncio no seu feed? Na hora que der um refresh no feed, quanto tempo dura um anúncio: cinco, dez segundos? E esse é o grande problema das grandes marcas. As pessoas estão tentando se tornar marcas e as marcas estão tentando se tornar pessoas, mas a velocidade com que as pessoas estão conquistando isso é muito maior do que as marcas estão fazendo o caminho contrário. 

Se a internet é um fenômeno sociológico e humano, as marcas têm que se tornar humanas, tem que ser pessoas na internet. Primeiro fique amigo das pessoas, depois queira vender algo para elas. E aí entra o papel de vocês, que é a questão do conteúdo. O que eu posso oferecer para essa pessoa? 

Só para fechar o raciocínio, o digital trouxe uma coisa que mudou a história do Marketing que é o seguinte: nunca as marcas tiveram a oportunidade de conversar tête-à-tête com seus clientes de maneira pessoal e personalizada em massa como agora, e elas não estão sabendo aproveitar isso. 

Tô fazendo a crítica aos caras do bom e velho Marketing para quem eu dei aula a vida inteira. 

[Fábio Miranda – Rock] Pensando no que você falou de que as pessoas estão se tornando marcas, temos a presença muito forte hoje do Marketing de influência, influenciadores digitais fazendo parte da estratégia de muitas empresas, e muitas até almejam se tornar os influenciadores, mas algumas poucas conseguem de fato esse status e confiança do consumidor, certo?

Minha pergunta é exatamente pensando no profissional de Marketing que está nos assistindo, e às vezes trabalha numa grande empresa, ou até uma empresa menor, como que essas marcas podem se preparar para isso que você comentou, essa publicidade mais humanizada, essa possibilidade que temos hoje de conversar com o consumidor de uma forma mais direta e não só ele assistindo uma propaganda ou sendo interrompido de certa forma?

[Ricardo Poli – Especialista]  Primeira coisa, um paradigma que precisa ser quebrado: tem que ser ousado para quebrar algumas regras do manual de branding e do manual de compliance, que nesse mundo digital muitas vezes só servem para atrapalhar. Vamos trabalhar um exemplo, mas outro ponto antes disso são as métricas. Tem métricas que são imensuráveis. 

O que é uma marca? Uma marca é a criação de um conjunto de signos. O que busca uma marca? Ser percebida como única pelo seu público. E isso passa por dois aspectos fundamentais: o conjunto de significados que ela tem e o conjunto de associações que são feitas. 

Por que uma marca é forte? Por que temos na prateleira do supermercado o leite condensado Glória e o leite Moça, ambos com o mesmo preço, e o que mais vende é o leite Moça

Porque ele tem uma marca forte, que está na vida das pessoas desde da infância, porque o consumidor acredita que é melhor… Se eu fizer dois brigadeiros, um com leite Moça e outro com leite Glória, você saberia a diferença? Eu duvido. A questão é que isso é uma marca. 

Às vezes eu crio um conjunto de significados que se concretizam em signos que vão fazer com que as pessoas comprem o meu produto ou meu serviço muito mais por razões subjetivas, afetivas e emocionais do que questões racionais. Se fosse racional, como eu, o consumidor vai sempre comprar o leite Glória (risos).

E até que ponto isso se mede? Como se mede engajamento? Engajamento é like/deslike? Não, é o quanto você conversa com seu consumidor. Uma marca precisa ser mais humanizada, conversar mais com seus clientes, e quem tem departamento de Marketing hoje que vai ficar nas redes sociais conversando e interagindo com todos os clientes dessa marca?E como se mede o resultado disso? Às vezes não se mede, ou se acredita ou não acredita. 

Pensa comigo: você pega uma jovem com 18, 19 anos com canal no Youtube falando de cosméticos. E você vê que essa menina tem 1 milhão de seguidores – não é difícil achar um fenômeno como esse. Aí você olha para os dois maiores fabricantes de cosméticos no Brasil – que não vou citar nomes – que também têm um canal no Youtube, mas não têm nem cinco mil pessoas seguindo. Essas marcas nasceram décadas antes dessa menina, eles sabem muito mais de cosméticos que essa menina, mas eles não conseguem ter presença digital e ela consegue, pois é humana, conversa com as pessoas e interage.  

E marcas são reféns de seus manuais de branding e compliance. E eu acredito no seguinte: esses influencers estão começando agora a desenvolver seus próprios produtos. Eu posso ter uma marca de maquiagem sem ser um fabricante de maquiagem – o mundo mudou – eu posso ter uma marca de energético sem ter uma fábrica de energético, posso ter alguém que faz para mim, terceirizar a produção. 

Todas as ferramentas que um influencer tem, ferramentas digitais, uma marca também tem. Um grande fabricante de cosméticos tem todas as ferramentas e muito mais capacidade de investimento que essa menina de 18 anos.

Eu vou citar uma frase de um livro que chama “O Fim do Marketing“, da editora H1, todo professor gosta de indicar um livro. Vale a pena ler esse livro, se quiser pode comprar o pacote de aulas do professor Ricardo Poli, e isso não é merchandising, não ganho nada por isso. O Carlos Gil fala o seguinte: não existe nada que o influencer possa fazer pela sua marca que a sua marca não possa fazer por si mesma. 

As ferramentas são as mesmas. E as grandes marcas ficam reféns dos influenciadores – nada contra, mas pelo amor de Deus. Acabou a campanha com o influenciador e acabou as vendas. E então precisa ficar sempre contratando.

Outro dia estava falando com uma aluna do C6 Bank e perguntei até quando eles vão conseguir pagar a Gisele Bündchen para ser influenciadora deles, vai custar caro (risos). 

Ou então como uma marca se torna uma influenciadora, esse é o grande desafio para as marcas.

[Fábio Miranda – Rock] Sim, e até puxando um pouco de sardinha para o lado da Rock, falamos muito sobre não ser refém das redes sociais e criar com a estratégia de conteúdo o seu posicionamento e o seu próprio canal, porque querendo ou não com as redes sociais, além de todo esse desafio estratégico da marca conseguir se posicionar para conversar com o consumidor do jeito que aquele consumidor deseja, vem outro desafio que são os próprios algoritmos das redes que vão limitar os alcances das empresas. Enfim, as empresas precisam também pensar em como elas querem se comunicar e pensar em criar os canais próprios – um blog, site – criar uma audiência de fato que não seja dependente daquilo que aparece nas redes sociais. Mas é um desafio e é difícil.

[Ricardo Poli – Especialista] As redes sociais são um grande cassino. Você pode entrar com pouco dinheiro e ganhar muito ou entrar com muito dinheiro e sair sem nada, você está à mercê das redes sociais. 

As redes têm suas regras, seus algoritmos, o Facebook não vai deixar você ficar rico sozinho e nem o Instagram, eles vão querer um pedacinho disso para eles. 

[Fábio Miranda – Rock] Sempre. Vou só deixar um recado para o pessoal, estou vendo que já temos algumas perguntas no chat, podem ficar à vontade para continuar enviando perguntas, no final vamos reservar um tempinho para o Poli responder algumas. 

Puxando agora para uma questão que você falou um tempinho atrás sobre o quanto que hoje é difícil captar a atenção do usuário, seja no digital ou fora dele. Eu, por exemplo, gosto muito de futebol e se não for meu time jogando é muito comum eu ver o jogo com uma outra tela ao lado e dividir minha atenção, esse é como você falou um fenômeno sociológico da sociedade, dividimos nossa atenção entre múltiplas telas hoje em dia, e é difícil captar a atenção das pessoas. 

Pensando nas marcas que querem se conectar, passar uma mensagem, é difícil atrair atenção para essa mensagem. Nesse sentido, como você acha que os fundamentos do Marketing podem ajudar a construir um storytelling cativante para que as marcas consigam captar a atenção do consumidor e vencer essa barreira de ter que disputar a atenção e ser difícil captar a atenção das pessoas?

[Ricardo Poli – Especialista] Primeiro, tenha bem claro quais são os fundamentos da existência da sua marca. Isso não tem nada a ver com digital. O quem é você, seu conjunto de significados, associações, branding, tudo isso. Essa é a primeira coisa.

Segunda coisa: entenda o fenômeno das redes sociais. Faça parte do movimento, não queria ser o movimento. Te explico: se as pessoas estão na internet para se entreter ou para se informar, entretenha e informe, e não dependa das redes somente. Pense 360 graus, não deixe de estar presente e executar ações de comunicação que já existiam. Não foque todo seu esforço nas redes sociais. Mas se você quer estar lá, tem que estar de um jeito. E olhe para o mundo para ver o que o mundo quer. 

Não pegue o seu manual de branding e saia achando que precisa dizer que é isso ou aquilo. E se isso não fizer diferença para quem está ouvindo? Eu vejo alguns fenômenos de internet e rede social que me chamam muito atenção. 

Por exemplo, eu tenho uma prima arquiteta que tem a mesma idade que eu, se formou na FAUUSP e virou arquiteta paisagista, que eu chamo de jardineiro de luxo (risos). Ela atende um segmento muito específico de mercado, que é a classe AAA, tem uma longa carreira, já foi na Casa Cor, saiu em várias matérias em revista de arquitetura, televisão, enfim tem uma carreira consolidada. Quando ela foi para o digital, ela bombou! Hoje tem mais de 100 mil seguidores no orgânico e ela fala que o digital gera 3 a 5 clientes por mês. Mas para ela funciona porque ela tem uma reputação de imagem de marca de 30 anos. Se uma arquiteta paisagista recém formada na FAUUSP fosse fazer isso, não teria nem mil seguidores e nem clientes. Então você entende que o digital é meio e não fim?

Grandes marcas têm muita história para contar para entreter as pessoas, não precisa querer tentar vender as ideias que só são importantes para elas mesmas. Olhem para o mundo, dêem para o mundo entretenimento, informações que sejam relevantes para o mundo e aí aprendam a jogar o jogo. 

Eu vi o vídeo de uma BMW elétrica que eles fizeram com o Schwarzenegger onde ele era o Thor, ou Zeus, e foi entretenimento puro, fiquei um minuto vendo aquilo! E é isso, não queira jogar todas as suas fichas no digital, pegue parte daquilo que sua marca é e jogue no digital. 

Mas você vai falar “ah, Poli, tem marca que é difícil associar a diversão“, tudo bem, então vá para a informação. Mas entenda o público que você está atendendo, adapte-se para ele, não passe somente as informações que são importantes para você. Esse é o grande desafio e isso requer dominar storytelling. 

Os publicitários tradicionais contavam histórias maravilhosas em 30 segundos, quantas propagandas a gente viu que marcaram nossas vidas e que tinham 30 segundos? Não mudou. Seja inteligente agora para contar histórias em cinco segundos, em dez segundos. 

Por outro lado, tem gente que coloca vídeo no Instagram de dois minutos e as pessoas veem por inteiro, certo? Então entenda o jogo e jogue o jogo. 

[Fábio Miranda – Rock] Perfeito. Vou pegar mais um gancho que você falou sobre o entretenimento em si, e puxar um pouco para o lado de interatividade e experiência que as pessoas procuram hoje. Antigamente era muito comum as empresas além do entretenimento de um vídeo, criar interatividade e experiência com as pessoas e isso acontecia muito em eventos, ou alguma estratégia de ativação de pontos de venda. Hoje em dia as marcas tentam construir experiências digitais, construir experiências interativas de uma forma digital. 

Como você vê a importância de criar experiências para o consumidor e como você vê essa relação entre o mundo digital que de certa forma possibilita que as empresas criem experiência de uma forma até mais barata do que acontecia antigamente em relação a eventos, pontos de venda e tudo mais?

[Ricardo Poli – Especialista] O princípio de tudo é a promoção de vendas. Eu lembro de uma campanha dos bichinhos da Parmalat, que precisava juntar os códigos de barra das caixinhas de leite – na época a moça que era faxineira aqui em casa adorava que eu comprasse os leites da Parmalat pois eu dava os códigos para ela, ela adorava – e isso é uma interação com a marca, mas uma interação impessoal. 

O que o digital trouxe? A capacidade de juntar essas duas coisas. A experiência de se viver momentos da marca e isso foi evoluindo. 

Como você falou sobre os eventos, shows, etc, ainda assim é uma experiência onde a marca está ali e eu aqui. Estou no show, no Rock in Rio, por exemplo, e sei que a marca patrocina, mas não tem uma relação comigo. Outro dia eu vi uma ação: o cara entra no estádio para ver o jogo do Real Madrid e o celular dele tem um registro na Heineken com informações pessoais. Nesse dia é aniversário dele e aparece uma mensagem no telão com o nome dele parabenizando pelo dia – isso é maravilhoso. Isso é o que a tecnologia tem que trazer, a potencialização de experiências com a marca. 

Porque isso que apareceu no telão vai virar um vídeo, alguém estava filmando. Outro dia vi outra ação com um monte de bicicletas ergométricas, era um fabricante de água na França. As meninas subiam na bicicleta e enquanto pedalavam subia um homem de luzes LED fazendo striptease, sabe? Isso é interação, isso é experiência. Precisa saber fazer o digital. Porque a emoção do presencial, a experiência do presencial é outra história.  

[Fábio Miranda – Rock] Muda a escala. Se for parar para pensar nesse evento que estamos fazendo aqui, vez ou outra eu falo de alguma coisa da Rock, sem querer ficar fazendo jabá de nossos produtos, mas estamos proporcionando uma experiência em escala menor para as pessoas que estão nos assistindo. 

[Ricardo Poli – Especialista] Pelo que se concorre: pelo tempo das pessoas. Fazer essa política de interatividade, de ter experiências digitais, vai da sua capacidade. Igual no Dia dos Namorados, você pode dar para sua namorada chocolate, flores ou cosméticos, um perfume. E nessa hora o fabricante de perfume concorre com o fabricante de chocolate que concorre com a floricultura. E nunca se esqueça do cartão, em nenhum desses casos esqueça o cartão – mistérios do mundo feminino – se não tiver o cartão não vale. 

É isso que acontece no mundo digital, quantas marcas nesse exato momento estão tentando fazer uma experiência digital? Eu sou consumidor final de quantas marcas? E você? E com todo mundo tentando fazer algo diferente ao mesmo tempo, o consumidor é obrigado a fazer escolhas – é um grande desafio. 

Eu acho que o digital usa o termo “gatilhos mentais” que é a questão da escassez. Não estou falando do caso de vocês, é o core business da Rock, mas se eu pego uma marca de leite em pó e ela começar a tentar fazer isso com frequência, desgasta. Fazer de vez em quando pode ser muito interativo. E a maneira como se divulga essa ação, por exemplo as meninas na bicicleta ergométrica, foi uma ação de rua, mas o fato de ter sido filmado e divulgado nas redes é muito maior que a ação na rua. E isso eu acho legal, a promoção da ação é maior que a ação. 

Talvez esse seja o melhor caminho. Porque é urbano, está na rua, é presencial. Hoje as pessoas falam tanto do digital, que agora é tudo digital, que a Rede Globo vai acabar… olha o que o BBB movimentou. Todo mundo vendo TV aberta, e você me diz que ela acabou? Não, o que existe são integrações.

Por isso que eu falo que é uma coisa só, não há diferença entre o tradicional e o digital. Não tem um Marketing Digital, tudo é Marketing. 

[Fábio Miranda – Rock] O que eu acredito muito é realmente que as empresas possam potencializar as ações delas com o digital e conseguir mostrar seu posicionamento e tudo o mais fazendo uma construção sólida, usando o digital como você falou, como um canal e não como única estratégia. Principalmente pensando que temos todos os tipos de profissionais de Marketing assistindo hoje como nossa audiência, desde empresas grandes até empresas menores, muitas vezes em cada peça de conteúdo elas conseguem criar um posicionamento. O importante é saber o que ela é e ter os fundamentos, esse é o ponto principal – ter a consciência de que o digital não é a estratégia, ele é o canal.

[Ricardo Poli – Especialista] O digital é uma ação. Temos que ter em mente que não dá para falar tudo sobre minha marca em uma única ação de comunicação, ainda mais em um post de 10 ou 30 segundos. Não queira falar tudo sobre o que significa sua marca em um único post. Hora fala de uma coisa, hora fale de outra… porque uma marca pode atingir vários públicos diferentes.

Eu estou dando consultoria para um grande grupo de produtos alimentícios e industrializados que tem N públicos. Uma parte desse público é feminina, por exemplo. Mas dentro desse público feminino, a mesma mulher tem a dimensão do trabalho, da família, ela é mãe, é esportista, e é uma mulher casada. Ela é várias pessoas ao mesmo tempo em determinadas ocasiões de consumo. Esse é um erro que às vezes os caras do tradicional cometem “meu público é assim“, não, ele está assim. De manhã ele é de um jeito, de tarde de outro e de noite outro. E precisamos entender isso, é um baita desafio. 

Se você quer comunicar a marca, não queira falar tudo sobre ela, fale aos poucos, é até mais fácil pois garante para você conteúdo por muito tempo. 

[Fábio Miranda – Rock] Boa. Vou fazer uma última pergunta antes de entrarmos nas perguntas do chat, que é mais pedir um conselho/dica para quem está nos assistindo. Se você puder passar uma dica ou conselho para as pessoas que nos assistem hoje, muitas trabalhando com Marketing mais digital, que dica você daria para essa galera pensando no bom e velho Marketing?

[Ricardo Poli – Especialista] Primeiro, mude o mindset. Pense que essa divisão não existe. Eu aprecio muito a galera do digital, uma vez eu cismei de assistir uma aula do Sobral para entender mais sobre gestão de tráfego, e falei que aquilo não era pra mim. Ainda bem que vem essa geração mais nova que consegue entender, porque eu sou muito mais o cara da estratégia, do branding, do que essa coisa toda.

Mas meu conselho é colocar o pé no tradicional, vai estudar, tem que estudar. E hoje em dia temos muitas alternativas para isso, não estou falando em fazer uma faculdade. O ideal seria, mas hoje em dia o mundo oferece alternativas de estudar aquilo que nunca vai mudar. O grande desafio é ter a noção total desse processo, fazer uma revisão sistêmica. 

E nisso a engenharia me ajuda, a olhar por vários ângulos diferentes e entender que nada é definitivo. Não existe uma fórmula mágica que vai ser um tiro certeiro e vai ser garantia de sucesso. Primeira coisa que eu digo, tem que estudar. 

Eu dou uma bronca no pessoal do digital porque tem aquela formação que eu falei do Novo Mercado onde eu tenho um curso do bom e velho Marketing, aí eu peguei uma galera assistindo em velocidade 2. Eu dei um esculacho, não é assim que se aprende. Você vai ter que ver minha aula 10 vezes para começar a achar que entende. A pegada é outra, a velocidade é outra. Eu sei que no digital precisamos ter uma velocidade mais rápida, mas no tradicional não, é difícil consolidar. 

Outra coisa, gosto muito dessa frase, sempre falava para os meus alunos, que é ”antes de dar as melhores respostas saiba fazer as melhores perguntas”. E as melhores perguntas você só vai saber fazer quando tiver a visão estratégica que é tempo e estudo.

E uma dica para fechar, olhe de fora para dentro. Não olhe de dentro para fora só, olhe de fora para dentro – e saiba fazer isso. Não é ouvindo um consumidor, um cliente que você vai chegar a todas as conclusões. Daquilo que você ouve, pegue o que é mais conveniente para você, mas olhe para os desejos e necessidades do mundo. 

As pessoas compram produtos e serviços basicamente por duas razões, todas as necessidades e desejos estão calcados em dois pilares: dor e prazer. Ou é por um ou por outro. E o mesmo produto pode ser visto das duas formas, dor para uns, prazer para outros. Olhe de fora para dentro. 

[Fábio Miranda – Rock] A primeira pergunta do chat é do Danilo: Hoje 98% dos negócios que fecho são por WhatsApp, 1% e-mail e 1% telefone. Estamos passando do telefone para o WhatsApp?

[Ricardo Poli – Especialista] Eu queria entender qual é a fonte dessa pesquisa. 

[Fábio Miranda – Rock] Parece que é empírico mesmo, são os negócios do próprio Danilo.

[Ricardo Poli – Especialista] Eu acho que o WhatsApp é uma ferramenta importante, para mim é uma ferramenta de trabalho muito importante em termos de comunicação, me comunico com meus clientes e meus alunos via WhatsApp, e é uma ferramenta que você tem que ficar atento. Se isso pode virar uma ferramenta de vendas para você, faça isso acontecer. Mas não é a regra.

[Fábio Miranda – Rock] Vai depender de negócio para negócio.

[Ricardo Poli – Especialista] É, cada situação é uma situação. 

[Fábio Miranda – Rock] O processo comercial aqui da Rock, por exemplo, não é tão simples para que a pessoa comece uma conversa e feche no WhatsApp – demanda uma conversa e uma explicação melhor. Acho que depende muito de negócio para negócio.

[Ricardo Poli – Especialista] A melhor resposta do Marketing é depende. O depende pode ser a resposta de um cara que manja muito do assunto, ou de um cara que está te enrolando. Fique atento. Mas o WhatsApp existe no mundo, ele é um fenômeno do mundo e vai servir para muita gente, mas para outras pessoas não. 

[Fábio Miranda – Rock] Próxima pergunta é da Caroline: Qual seria a grande diferença entre o Marketing tradicional (raiz) e o Marketing Digital? Principalmente o que surgiu nas redes sociais. 

E a segunda pergunta dela é qual o grande erro para não cair em propagandas enganosas?

[Ricardo Poli – Especialista] Caroline, minha resposta é que não tem diferença. O que eu quero vender aqui é que tudo é Marketing e que o digital é um dos pilares. Eu sempre falo assim, pensa num iceberg: ele é uma coisa única, sólida, mas 10% – segundo as leis da física – está acima da água. 90% está para baixo, porque ele é de água doce. A questão é o que são aqueles 10% que aparecem? O que se manifesta para o mundo: o TikTok, o Instagram, meu blog, tudo aquilo que é digital é o que aparece para o mundo – é a exposição. Só que essa exposição está sedimentada em algo que chamamos de sustentação: que é marca, posicionamento, concepção de negócio, saber quais são meus canais de Marketing e mídia, estratégia nos seus mais variados níveis – isso são os 90%. 

Se você não investir para esses 90% crescerem, os 10% também não vão crescer, porque eles são consequência e não causa. Se você estruturar o seu negócio em termos mercadológicos e estratégicos e fazer os 90% crescer, os 10% vão crescer proporcionalmente. 

Eu não vejo uma diferença, para mim tudo é uma coisa só. Mas como o Marketing Digital criou o jargão do digital, eu criei o jargão do Marketing raiz, mas só para dizer que é tudo a mesma coisa.

Propaganda enganosa é uma discussão que ainda precisamos entender qual o nível de enganação que se faz. Tem coisas que são enganosas mesmo, e outras só parecem ser. 

Vou fazer uma live sobre isso um pouco mais para a frente, é a tal da discussão do hambúrguer de picanha. Aquilo é uma enganação? O restaurante disse que o hambúrguer é sabor picanha, não que seja de picanha. Com essa situação todo mundo falou mal do McDonalds – e não estou defendendo o McDonalds – mas tem empresa que vende leite de soja sendo que de leite não tem nada. E como fica essa situação?

Hambúrguer de soja? De nada tem de hambúrguer, porque se não tem carne não é hambúrguer. Por que nesses casos ninguém pega no pé desses produtos e todos foram atrás do McDonalds

Tem coisas que são enganação, tem! Verifique, confirme, não compre por impulso. E aí tem gente que vende beijinho de bala de goma dizendo que vai melhorar o seu cabelo, vocês sabem de quem eu estou falando. Se você perguntar a um dermatologista, ele vai te falar que isso não tem base científica nenhuma, aí há uma enganação, eticamente questionável do ponto de vista do Marketing tradicional. 

O digital talvez aceite isso muito bem, essa é a diferença. Vende bem no digital, mas o cara do bom e velho Marketing diz que o produto é uma mentira. Vale enganar o consumidor para ganhar dinheiro? Porque o beijinho de bala de goma não vai melhorar o seu cabelo nunca. 

[Fábio Miranda – Rock] Vamos para a próxima pergunta, a do Nando: Professor, como lojas de varejo de moda podem unir o digital e o raiz?

[Ricardo Poli – Especialista] Opa, vamos lá! Primeiro, adoro o varejo de roupa! Outro dia falei com uma aluna que tem um varejo de roupa de criança, de bebê, e é interessante porque o que dá dinheiro é vender roupa de menina e não menino, e ela decidiu ter um varejo online. Falou “Poli, achei que eu ia economizar dinheiro de aluguel, de água, luz, mas percebi que tudo que eu tinha que gastar com o Google era maior que o aluguel”. Claro, não tem milagre, esse é o primeiro ponto. (risos)

Existem quatro dinheiros que você gasta quando vai criar um negócio: primeiro para criar o negócio, segundo para girar o negócio, terceiro o que precisa guardar para os erros que pode cometer por nunca ter competido naquele setor – pega esses três dinheiros e considera que é a metade do valor. O quarto dinheiro, é a somatória desses três e é o custo para se tornar conhecido. 

Então entra o posicionamento, marca, saber onde você é diferente, e por aí vai. A logística de ter um online é complicada, é logística contábil. Eu tenho um amigo que tem um varejo de cueca, meia e camiseta. Registrar o produto, o processo contábil, é muito difícil. Acho que não é uma ideia que se deva desistir. 

Essa aluna estava ainda com um problema no auge da pandemia, porque ela precisava comprar estoque e em 2021 ela não sabia nem o quanto ela comprava para isso. Ela me disse “não quero ter a sensação de que poderia ter vendido mais do que vendi e também não quero no final da coleção ficar com o estoque cheio, vou perder dinheiro. Como eu faço?” Eu fiquei duas horas conversando com a Cíntia, ex-aluna lá da ESPM, duas horas para chegar num click.

Aí eu te pergunto, qual a solução que o pessoal do Marketing Digital poderia dar para ela, já que isso não tem nada a ver com o digital? É decisão de negócio, decisão de uma inteligência que o digital não tem que ter. 

Foi o que eu falei para ela “querida, use a solução mais tradicional do Marketing: você tem a lista dos seus clientes? Tem a compra média deles? Tem uma curva ABC de clientes? Conversa com essas pessoas e tenta fazer pré-venda. Abra seu coração e seja sincera, você é amiga dessas pessoas, fala a verdade sobre o estoque. Coloque suas funcionárias, elas são sua linha de frente, e a partir disso você tenta fazer sua previsão de vendas.

Mas o digital jamais daria essa solução, o maior guru de digital não daria essa dica, porque isso é o Marketing raiz. Eu liguei para ela depois de um tempo, porque não tive notícias, e ela disse que conseguiu mensurar as vendas através do relacionamento, sendo humana. Mas é muito mais fácil ser humana falando com as pessoas do que digitalmente. 

Fala para esse rapaz do varejo me mandar um direct que a gente pode conversar mais. 

[Fábio Miranda – Rock] Fechando aqui e usando o gancho que você falou para o rapaz te mandar um direct e conversar, fala para o pessoal onde eles podem te encontrar. Eventualmente eu posso ter deixado passar alguma pergunta aqui, então às vezes a galera te manda também um direct para trocar uma ideia. 

[Ricardo Poli – Especialista] É @ricardopoli, aí você me acha no Instagram, no Facebook e no LinkedIn. Ainda bem porque a Denise fez uma pergunta aqui que eu não saberia responder: “lacração é o novo lucro?” (risos) Eu ainda não entendi direito o que é esse negócio de lacração, mas tudo bem.

[Fábio Miranda – Rock] Galera, vamos encerrar por aqui então, Poli, queria agradecer – 

[Ricardo Poli – Especialista] Eu falaria por horas com você e essa galera aí! 

[Fábio Miranda – Rock] Valeu, Poli, foi bom demais, eu agradeço muito a sua presença aqui, agora a casa é sua aqui na Rock, eventualmente a gente faz uma outra edição, foi um prazer conversar e aprender com você hoje!

[Ricardo Poli – Especialista] Eu que agradeço! Contem comigo, e novamente obrigado pela oportunidade que a Rock deu, isso que vocês chamam de Marketing de Conteúdo é muito importante – e um dia podemos falar só sobre isso. 

Eu acho que o digital trouxe uma nova forma de Marketing de Conteúdo, ele sempre existiu, mas o digital ressignificou, não dá para fazer mais como antes. A Globo fez Marketing de Conteúdo a vida inteira, mas o mundo mudou. Eu lembro das novelas americanas, lembra as “soap operas“, porque aquilo era um conteúdo promovido pela Unilever, que dava novela para o público e tinha seu produto no meio da história. Os princípios são os mesmos, mas as formas mudaram e mudaram muito, por isso eu acho o trabalho de vocês e de toda essa galera do digital fantástico. Mas quanto mais raiz você souber, melhor digital você vai ser. 

[Fábio Miranda – Rock] Boa, Poli!

[Ricardo Poli – Especialista] Obrigado!

[Fábio Miranda – Rock] Então é isso, pessoal. Só para fechar e complementar um pouquinho do que o Poli falou, o Peçanha nosso CMO fez um texto há mais ou menos um ano falando sobre conteúdo e Marketing de Conteúdo e foi nesse período que a Rock começou a falar muito também desse tema até por uma certa educação do mercado, mas conteúdo de fato está presente desde sempre, conteúdo em si é essencial para uma estratégia de Marketing – não só o que a gente chama hoje de Marketing de Conteúdo, ter um blog e tudo, mas conteúdo está em tudo, praticamente.

Quero aproveitar e fazer um convite a quem está nos assistindo, quem quiser falar com nossos especialistas sobre Marketing de Conteúdo e quiser trocar uma ideia sobre como a Rock trabalha e como a gente estrutura estratégias para outras empresas, pode ficar a vontade, vou pedir para a galera deixar o link aqui, é só preencher o forms que nossos consultores entram em contato. 

E além disso agradecer a presença de todo mundo e convidar vocês a nos seguirem nas redes sociais, como eu falei no começo nossas Jam Sessions acontecem mensalmente, já tivemos diversos convidados tão bons quanto o Poli. O próximo convidado ainda é sigilo, mas vamos divulgar em breve nas redes sociais, fiquem atentos. Esse papo que temos aqui com outras pessoas do mercado é muito bom para a gente. Para mim que estou apresentando foi excelente, pude aprender também e tenho a certeza que conseguimos sempre trazer convidados que geram valor. Sou suspeito para falar porque eu gosto muito de eventos, então acho que um único insight que eu tiro de uma apresentação pode virar a chave de uma estratégia que estou desenhando, de um negócio e tudo mais. Então convido vocês a nos acompanharem e estarem presentes nas próximas Jam Sessions também.

[Ricardo Poli – Especialista] Para fechar, você me perguntou o que esse pessoal do digital pode fazer para aprender mais o Marketing raiz? No futuro próximo Ricardo Poli vai lançar uma escola de Marketing raiz e todo mundo vai poder ir lá estudar e aprender tudo que estamos falando. Obrigado!

[Fábio Miranda – Rock] Abraços pessoal. 

Conteúdo Extra

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O livro “O Fim do Marketing”

“Não existe nada que um influencer possa fazer pela sua marca que a sua marca não possa fazer por si mesma. As ferramentas disponíveis são as mesmas”. Essa é uma afirmação do livro O Fim do Marketing, do norte-americano Carlos Gil. Afinal, o Marketing está morto?

Em um mundo dominado pelo digital, inteligência artificial, algoritmos, chat bots, redes sociais, influencers, automação e muito mais, marcas se movimentam com extrema insegurança. O desafio é grande e tudo parece mais complexo. Onde está, no fim das contas, o público-alvo e se aproximar deles? Como usar as ferramentas digitais como aliadas e não depender delas totalmente? Como ser sua própria influência?

Em um livro provocador, Gil fala sobre trazer o “social” de volta para as redes e compartilha estratégias para se aproximar do público em massa e escala a fim de construir uma marca relevante e que se destaque no mercado.

Curso “O Bom e Velho Marketing”

Antes do Marketing digital, em uma galáxia distante, existia apenas o Marketing. Em um tom divertido e muito informativo, Ricardo Poli, em seu curso O Bom e Velho Marketing, mostra como conhecer os fundamentos básicos do Marketing podem “salvar” o digital, ajudando profissionais a usar as novas ferramentas de uma forma mais inteligente e eficaz.

Para o professor, os meios mudam, mas os fundamentos permanecem. Dominar demanda e consumo, desejos e necessidades, produto e serviço, marca e posicionamento é crucial para qualquer pessoa que atue no setor, pois vai dar ao aluno um olhar completo, além do digital.

A importância da experiência de marca

 “Grandes marcas têm muita história para contar para entreter as pessoas, não precisa querer tentar vender as ideias que só são importantes para elas mesmas. Olhem para o mundo, dêem para o mundo entretenimento, informações que sejam relevantes para o mundo e aí aprendam a jogar o jogo”, conta Poli durante a Jam Session. Nessa parte, o professor fala sobre como marcas podem usar storytelling e outras táticas para se aproximar do público e estabelecer uma relação afetiva. É aqui que a experiência de marca entra.

Para Poli, o digital trouxe uma grande vantagem para marcas: a possibilidade de tornar experiências mais pessoais, de criar momentos de interação reais entre público e marca.

Em eventos e diversas ações que mesclam o presencial e o digital, Poli deu exemplos de como marcas conseguiram se materializar e se tornar presente na vida de um consumidor. Assim, pessoa e marca estão unidos em um algum lugar no tempo e espaço, experimentando algo juntos.

Poli conta de um case no qual um usuário entra no estádio para ver um jogo e a Heineken, com base nas informações pessoais do registro do cliente, coloca o nome desse consumidor no telão com uma mensagem o parabenizando pelo seu aniversário. Esse exemplo mostra como a tecnologia ajuda a potencializar as experiências, personalizar as ações e torná-las ainda mais especiais e significativas para o público. 

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