É bastante interessante, e talvez não por acaso, que o Orkut ressurja nas manchetes brasileiras bem na semana em que o Twitter foi comprado pelo bilionário Elon Musk. Seu criador, Orkut Buyukkokten, colocou uma carta no domínio histórico orkut.com defendendo um ambiente social mais sadio contra discursos de ódio e amizades mais verdadeiras do que simples likes.
A gente já falou sobre o assunto aqui no blog da Rock Content, então, não vou me estender demais sobre o Twitter. Só queria registrar que o conceito de “liberdade de expressão” de Musk, o qual ignora o poder negativo da propagação de discursos de ódio e fake news, não combina com um ambiente online sadio.
E é neste ponto que Orkut vai.
Problemas de hoje já existiam no Orkut
O Orkut nunca foi um ambiente 100% sadio. Porém, seu criador, Orkut Buyukkokten, antes mesmo de empoderamento de minorias ganhar destaque na rede mundial nos anos 2010, já tratava destas questões como algo importante.
Como repórter, nos anos 2000, o entrevistei duas vezes. Também fiz muitas reportagens sobre os prós e contras do avanço das redes sociais já naquela época.
Uma das reportagens que fiz tratava do aumento de venda de drogas e crimes de pedofilia na ferramenta. Foi capa do Estadão e chegou a fazer com que representantes do Google, dono da ferramenta, tivessem de depor no Congresso. Eu mesmo tive de depor na Justiça depois como testemunha.
Foi uma discussão necessária naquela época. Uma ONG chamada Safernet ganhou protagonismo por lutar com o Ministério Público para coibir estes crimes. E, em momento algum, o Google se colocou contra estes esforços. Muito menos o criador da ferramenta, o Orkut em pessoa.
Orkut só queria fazer amigos
Encontrei Orkut Buyukkokten pessoalmente em 2008. Ele havia vindo ao Brasil pela primeira vez para entender o motivo de algo criado por um programador turco ter pegado tanto por estas bandas e não no resto do mundo. Orkut era jovem como eu. Estava aproveitando para ir a festas e baladas, conhecer gente. Mesma vibe da rede social que criou.
O Orkut foi criado mais ou menos como o Facebook. E mais ou menos na mesma época. Se Mark Zuckerberg estudava em Harvard, Orkut estudava em Stanford. A ideia era conectar os alunos. A diferença, entretanto, era o propósito. Zuckerberg queria dar notas para mulheres. O Orkut, integrar classes.
“Vi que era difícil conhecer gente no campus. Queria facilitar a interação entre alunos de classes distintas. E fiz duas comunidades virtuais lá (em Stanford)”, me contou ele numa entrevista exclusiva em um hotel de São Paulo logo após uma coletiva com a imprensa.
Claro, não podemos imaginar o que teria acontecido se o Orkut tivesse se tornado um Facebook. Mas é interessante que, 17 anos depois, e com a compra do Twitter por alguém que pode transformar a ferramenta em um ambiente tóxico, o Orkut use o mesmo domínio que, anos atrás, acessávamos todos os dias para relembrar o básico de uma rede social.
“Nossas ferramentas online devem nos servir, não nos dividir. Elas devem proteger nossos dados, não vendê-los. Elas devem nos dar esperança, não medo e ansiedade. A melhor rede social é aquela que enriquece sua vida, mas não a manipula”, escreveu ele na página.
Claro, o Orkut não citou os problemas com Justiça e Congresso de anos atrás, mas lembrou os esforços que empreendeu para tentar ter um ambiente virtual mais sadio:
“Trabalhamos muito para tornar o orkut.com uma comunidade onde o ódio e a desinformação não fossem tolerados. Nos dedicamos muito para tornar o orkut.com uma comunidade onde você pudesse conhecer pessoas reais que compartilhavam seus mesmos interesses, não apenas pessoas que curtiram e comentaram em suas fotos.”
De volta ao básico
Eu tendo a ver a coisa um pouco diferente dele. Acredito no valor que o Twitter trouxe para democratizar o acesso às notícias com seu feed ultra veloz, por exemplo.
Também para o Marketing, ao permitir que as marcas falassem diretamente com seus públicos, quebrando o monopólio de poucos veículos de massa no processo e dando oportunidade a empreendedores crescerem com pouco investimento.
Mas também entendo que a crítica dele ao excesso de apego a likes vai bastante de encontro aos vazamentos que mostraram que o Facebook sabia que o Instagram fazia mal à saúde mental de adolescentes e não fez absolutamente nada por interesse financeiro.
Também compartilho uma certa desilusão: sempre foi lindo ver vozes que nunca seriam ouvidas ganharem destaque nas redes. O empoderamento de minorias cresceu muito por isso: comunidades antes distantes geograficamente conseguiram se unir para exigir direitos.
Ao mesmo tempo, o que poderia ser usado só para o bem caiu em mãos de pessoas manipuladoras. E isto não está perto de se resolver. A compra do Twitter por Musk mostra isso.
É interessante ver uma voz histórica se posicionar nestes tempos. Mesmo se fosse relançado (e é isto que ele dá a entender no final da mensagem), não acredito que o Orkut tivesse mais espaço.
Entretanto, é ótimo ver que ainda há gente que acredita em ferramentas melhores e no espírito que sempre fez a internet evoluir desde a criação do WWW por Tim Berners-Lee: é sobre conectar pessoas, tornar a vida melhor. Não é sobre ódio ou qualquer outra coisa.
Pensemos nisso!
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